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Clube da Esquina – 1972

Clube da esquina – 1972

Olá amigos do AHD, tudo bem com vocês? Aqui é o Flávio Oliveira, faz tempo que não escrevo por aqui e já estava com saudade desse nosso contato musical.

Iniciamos 2019 cheio de mudanças (mais ruins do que boas), mas tocaremos nossas vidas assim como der. Faz um tempo que venho me planejando para falar sobre este disco que marcou e ainda marca gerações, que é o Clube da Esquina de 1972. O fato de ter reforçado a ideia de querer escrever sobre este disco, foi a trágica notícia envolvendo o fotógrafo Cafi. Mas o que um fotógrafo tem a ver com o início de minha matéria? Tudo. Cafi foi responsável por mais de 300 capas de discos da MPB e imortalizou momentos como “o disco do tênis” de Lô Borges e a capa deste disco que vou conversar com vocês. A capa do disco do Clube da Esquina é um assunto a parte e que merece destaque também neste marco na história neste marco da Música Popular Brasileira. Então, vamos direto ao assunto!?

Se vocês procurarem na internet “Clube da Esquina” vão ler que se trata de um movimento musical formado por jovens músicos e compositores, além do magnífico Milton Nascimento – conhecido como Bituca pelos mais íntimos. Na verdade, o Clube da Esquina foi um trabalho coletivo envolvendo jovens mineiros juntamente com Milton. Os músicos e compositores que integraram esse timaço eram: Lô Borges, Beto Guedes, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Flávio Venturini, Tavinho Moura, Toninho Horta e Murilo Antunes. Estes rapazes além de letristas/poetas, eram também arranjadores musicais. A história desse grupo de amigos se fortaleceu na linda amizade que Milton Nascimento estabeleceu na “casa dos Borges” como o próprio cantor afirma em entrevistas. Os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô) eram todos músicos e compositores, moravam no bairro Santa Tereza em BH. Milton foi morar em Belo Horizonte depois de ter saído da cidade de Três Pontas (MG), onde tocava em bandas de baile ao lado do pianista Wagner Piso. Portanto, em 1963 os irmãos Borges e Bitucam já haviam iniciado essa grande parceria musical. Nascimento já tinha uma carreira feita,já era um músico da noite e até tinha gravado um disco com algumas canções próprias, tendo uma sido gravada pela cantora Elis Regina.

Os grandes amigos viviam sentados em uma esquina tocando suas canções, ficavam ali unidos também para conversarem sobre a vida. Essa relação com a esquina tem um motivo específico, pois toda vez que alguém decidia procurar os rapazes a mãe dos Borges dizia que eles estavam todos ali na esquina tocando violão. Essa ideia então foi captada e transformada em um projeto a partir do convite de Milton Nascimentos aos amigos. O disco se tornou duplo contém uma mescla de gêneros musicais, o que torna esse LP uma preciosidade que dispensa comentários muito articulados, basta você ouvir para comprovar.

A primeira vez que ouvi este disco foi com a faixa “Tudo Que Você Podia Ser”, no qual a letra é explosiva e com um grande peso poético, faixa aliás que abre esse disco de quatro lados. O que me chama muito a atenção é o lirismo proposto pelos compositores. Esse álbum é perfeito para ouvir em uma viagem de carro – tive essa experiência e posso assegurar para vocês, é demais – , na qual uma viagem se estabelece dentro de outra viagem musical. Para muitos críticos o disco ultrapassa o movimento baiano-paulista Tropicália e isso pode gerar alguns conflitos de ideias, mas o que menos quero aqui é despertar estes tipos de desavenças. O Clube da Esquina foi um trabalho coletivo envolvendo todos os jovens citados, enquanto uns iam compondo letras, outros faziam arranjos musicais. O disco foi lançado em 1972 e serviu de apoio também para os dois grandes artistas que posteriormente gravariam álbuns solo: Beto Guedes e Lô Borges.

A mistura de música brasileira contendo samba e letras que abordam o Estado de  Minas Gerais juntamente com lindas melodias de jazz e músicas hispânicas compõem a riqueza magistral desse álbum. O talento musical dos irmãos Borges demonstra a ousadia desses rapazes – vale lembrar que Lô Borges era um rapaz de 18 anos que compunha e tocava suas próprias músicas. Para mim o mais intrigante neste disco é a ousadia de mesclar todos os gêneros (acima citados) e ritmos com The Beatles, a grande influência entre todos os integrantes da banda. Este disco nos revela a ousadia  de misturar elementos da música erudita com a popular, tal divisão que sempre foi motivo de polêmica na cultura brasileira, isso contribui de certa forma para agregar e enriquecer mais a música popular brasileira.

O disco contém faixas clássicas como a que mencionei anteriormente (Tudo Que Você Podia Ser), mas também existem outras faixas que merecem destaque, como por exemplo: “Um Girassol Da Cor De Seu Cabelo” – essa música me lembra muito ” A Day In The Life” dos Beatles), “Trem Azul”, “Nuvem Cigana”, “Paisagem Da Janela” e a excelente releitura da música “Me Deixa Em Paz” do sambista Monsueto nas vozes de Alaíde Costa e Milton Nascimento. A formação musical dos integrantes do grupo é o que mais chamou a atenção dos críticos da época. Este disco foi importante nas disseminação de novas influências no pais, como o rock progressivo e ainda contribuiu para a melhora da MPB.

Todos os integrantes do Clube da Esquina tiveram carreiras solo e de certa forma, surgiram novos grupos após este belíssimo disco. Beto Guedes ficou muito conhecido com seus discos solo, como por exemplo: Amor de Índio (1978) – este disco é lindo – e Alma de Borracha (1986). E Lô Borges lançou o clássico “disco do tênis” também em 1972, e atualmente ele vem fazendo uma releitura do mesmo em seus shows.

Outro ponto interessante é a capa desse disco, na mesma temos dois meninos a beira de uma estrada de terra, mostrando assim realidade do interior do Brasil, onde muitas vezes ninguém os enxerga. Muitas pessoas acreditam que um dos meninos da foto seja Milton Nascimento, mas não é. Deixaria ao fim desta matéria um link com uma reportagem que explica melhor quem são os garotos que figuram na capa deste lindo álbum – assim deixo um gostinho de quero mais.

Bom pessoal, como disse à vocês no início dessa matéria, o que me levou a escrever sobre este disco foram alguns fatos. Primeiro a triste morte do fotógrafo que imortalizou várias capas de discos da MPB – incluindo do álbum destacado hoje -, e também por conta da excelente notícia que o Milton Nascimento anunciou em seu Instagram, onde ele afirma que esse ano vai voltar a fazer shows com músicas do projeto Clube da Esquina. Quer notícia mais boa do que essa? O ano de 2019 começou com aquele gostinho de 7×1 mas ainda temos algumas coisas boas que nos livra dessa angústia que teremos que enfrentar durantes 4 anos.

Outro detalhe importante pessoal, o álbum Clube da Esquina foi lançado em 1972 mas em 1978 houve o lançamento de outro disco com o mesmo título, mas acrescentando o número 2 em número romano (II). Neste segundo disco Bituca e seus amigos criam um disco mais engajado do que o primeiro (se este que comentei  no AHD é foda, imagina esse segundo, inclusive eu o recomendo também), e conta com a produção de Ronaldo Bastos e com a participação mais que especial de Chico Buarque.

Bom galera, é isso, espero que vocês tenham gostado da primeira matéria de nosso site em 2019. É “nóis” galera, até a próxima!

Faixas do Disco

1 –  Tudo O Que Você Podia Ser

2 – Cais

3 – O Trem Azul

4 – Saídas E Bandeiras N°1

5 – Nuvem Cigana

6 – Cravo e Canela

7 – Dos Cruces

8 – Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo

9 – San Vicente

10 – Estrelas

11 – Clube Da Esquina N°2

12 – Paisagem Da Janela

13 – Me Deixa Em Paz

14 – Os Povos

15 – Saídas E Bandeiras N°2

16 – Um Gosto De Sol

17 – Pelo Amor De Deus

18 – Lilia

19 – Trem De Doido

20 – Nada Será Como Antes

21 – Ao Que Vai Nascer

Ouça o álbum Clube da Esquina de 1972 na íntegra!