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Os Mutantes – A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)

Os Mutantes – A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)

Os Mutantes- A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)

É de extrema importância sabermos quais são os discos que formaram totalmente a nossa personalidade no rock n roll.

Falarmos de bandas com grande importância do nosso cenário musical é bastante abrangente e intrigante, apesar de lidarmos com uma  geração que nem conhece ou sequer nem sabem da existência de bandas desse tipo.

Em suma, em meu post anterior, comentei sobre um disco muito importante na música pop internacional, e agora me passou pela cabeça falar sobre um disco de banda nacional, que teve uma contribuição imensa para o nosso rock n roll e que nada mais é que um fruto das experiências dos Beatles. Quero falar sobre Os Mutantes, isso mesmo, aquela banda que poucos conhecem, ou os mais “velhos” sabem do que eu estou falando, e vejo a necessidade de comentar e abrir espaço para essa banda que marcou muito o rock nacional e que usou e abusou de seus efeitos anárquicos na música, balançando o ego dos elitistas nacionalistas da Bossa Nova, causando pequenos conflitos e se tornando uma das bandas mais comentadas dos anos 1960.

Um breve comentário sobre a Banda.

1970, vivíamos em um momento de extrema repressão social, com várias perseguições policiais, em busca da subversão em prol da segurança nacional! A juventude vivia em meio ao caos, tendo a sua liberdade privada e não podendo falar tudo o que queria a melhor forma encontrada para algumas pessoas era cantando suas músicas. Diante deste cenário macabro surgiram vários compositores de extrema importância, desde os mais radicais até os mais moderados, mas que mesmo assim, curtiam cutucar o Estado.

Nesse momento é que entramos com a banda Os Mutantes, que teve êxito com os Tropicalistas, ganhou seu espaço e foi fazendo várias participações com artistas (exemplo disso é a participação com Caetano Veloso, no disco ao vivo no Clube da Sucata), posteriormente vieram seus discos com trabalho próprio, discos com melodias psicodélicas e letras até em francês, coisa nova em nosso país. Mas a banda começou a ganhar as devidas atenções depois da apresentação de 1967, com Gilberto Gil, cantando a música “Domingo no Parque” uma história de amor com muito sangue e tragédia.

Os Mutantes no ano de 1967 teve uma importância interessante na sociedade porque até o momento tínhamos apenas conhecimento do rock rebelde com a “juventude perdida” da Jovem Guarda que era ingênua aos olhos dos Mutantes, esses que por sua vez, eram extravagantes e ousados com o visual.

Um fato novo na história da nossa música foi a ousadia de  Gilberto Gil ao misturar orquestra com guitarra elétrica, baixo, bateria e até mesmo um berimbau, causando assim um tremendo espanto para todo o público, que receberam com vaias e insultos no festival de 67. Lembrando que, as guitarras elétricas eram vistas com horror pelos brasileiros, pois o instrumento era a introdução de um produto ianque imperialista em nossos trópicos, isso mesmo, pode até parecer bizarro, mas foram feitas até passeatas em prol da Bossa Nova e retirada das guitarras elétricas, passeata essa liderada por “Elis Regina, Nara Leão e Cia.” Enfim, em meio a esse ciclo de parceria entre Gil e Mutantes, chamou-se a atenção do público porque não se tinha bandas de rock no Brasil tocando o seu próprio estilo, pois, todos no momento que faziam rock eram cópias de rock italianos (as famosas versões), e jogados aqui para o público.  É nesse momento em que Os Mutantes começam a chamar a atenção de todos.

Em meio a esse festival, a banda consegue gravar seus primeiros discos, o primeiro disco da banda “Os Mutantes de 1968” com canções inovadoras e músicas de raízes brasileiras (o caso da música Adeus, Maria Fulo), com instrumentos diferentes em que Rita Lee tocava sutilmente,  dando mais brilho as músicas. A banda até o momento era formada pelos irmãos Baptista (Arnaldo e Sérgio) e Rita Lee, foi nessa formação que vieram frutos de 3 discos sensacionais que inclui o disco que irei comentar a seguir.

São comentários breves da banda, pequenos acontecimentos que tiveram uma extrema importância na história da música brasileira, e que deve ser comentado por todos, pois, não podemos deixar essas histórias ficarem no esquecimento.

A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO (1970)

Depois de 1968 com seu primeiro disco e 1969 com seu segundo disco, contendo canções psicodélicas e sempre com um tom humorístico ácido característico da banda surge o disco em que comentarei. A Divina Comédia ou Ando Meio desligado, é um disco onde são abertas as portas das viagens ou a abertura das “portas das percepções”. A loucura das viagens de ácidos começaram a invadir o Brasil, dando um toque mais hábil para música. É nesse disco onde eles abusam nas composições, criticando os “Playboys da Rua Augusta” com a música Hey Boy (Rua que antigamente era o palco ondes os “playboys” exibiam seus carros e garotas), uma pequena sátira a Roberto Carlos.

A canção famosa que é titulo do disco Ando Meio Desligado é retrato disfarçado de uma viagem de ácido “Ando, meio desligado, eu nem sinto, os meus pés no chão…”

Canções essas que fazem parte de um trabalho muito bem produzido, que para espanto de todos, foi produzido por Arnaldo Saccomani, o sujeito chato pra caralho que faz participações nos programas do SBT, com cantores e tal, um fato que até eu pessoalmente, me espantou, mas enfim, voltando ao foco esse disco tem uma importância muito grande em nossa música, porque ele foi o primeiro (no quesito estúdio) a ter técnicas de som, o que era uma novidade, pois o modo de gravação da época ainda era tosco. A arte da capa do disco (que é uma das partes que eu mais curto) é algo fascinante, além da qualidade das faixas. A capa retrata o Inferno do livro de Dante, e foi encenada pelos três integrantes da banda no jardim da casa de Arnaldo Baptista e a contracapa tinha a fotos dos três integrantes na cama. Agora imagine uma mulher com dois homens na cama em um período de Ditadura, pois é, foram massacrados, mas isso fazia parte da crítica ao sistema.

Mais um ponto interessante, foi a música Quem tem Medo de Brincar de Amor que é uma crítica as famílias da época que  não falavam com suas filhas sobre virgindade, pois é, um assunto muito comum de se falar nos dias de hoje antigamente era um tabu extremo, fruto do conservadorismo e do cristianismo das famílias tradicionais. Essa canção abusa dos efeitos, com apitos, risos, uma baderna de mão cheia que no fundo é estampado pela letra que diz: “Ah, deixa pra lá meu amor, vem comigo (yeahh!). Ih esquece esse drama ou que for, sem sentir eu!”, fato na época que passou despercebido, mas perceba uma coisa, em meio a um regime ditatorial eles conseguiam burlar os ouvintes da censura, que não percebiam essas alfinetadas na sociedade e deixavam passar (COISA RARA ISSO!), é em meio a esses tipos de letras com um toque sútil da anarquia musical, que se encaixa todo esse disco, que para mim é o clássico da banda, sem desmerecer os outros como: Jardim Elétrico, Tecnicolor e Os Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets.

E só mais um detalhe de uma música, que é Chão de Estrelas, uma música elitista, que os nacionalistas enalteciam e amavam, e para Os Mutantes foi um prato cheio para gozar na cara desses nacionalistas, essa música se você ouvir a original é uma música calma, triste e romântica ao fundo, mas, que na mão de Sérgio, Arnaldo e Rita se tornou uma música zoada e irônica, causando fúria nos nacionalistas, pois foram incluídos efeitos sonoros, como rasgos de roupas, portas batendo e uma orquestra muito irada, regida por um importante músico de nosso país, Rogério Duprat, fazendo todo a composição dessa anarquia musical, é isso que me chama atenção dessa banda brasileira, a criatividade e a arte do insulto, sem deixar o humor de lado, dentro de um período que ainda deixa marcas nas pessoas.

E por fim, fecho essa discussão trazendo à você, amigo ouvinte de boa música, essa pérola da nossa música, sendo que essa banda caiu no esquecimento, são pouquíssimas as pessoas jovens (por exemplo) da minha idade que conhecem ou que querem conhecer essa banda, que lá fora, em outros países é amada e idolatrada pelos gringos, até mesmo Kurt Cobain quando veio ao Brasil em 1993 quis conversar com Arnaldo Baptista, mandando-lhe cartas e mais cartas, até mesmo o filho de John Lennon, Sean Lennon, é um grande amigo de Arnaldo.

É caro leitor, por isso a importância de conhecermos bandas assim, pois é uma pena ver uma banda tão requintada e com tanto talento ser esquecida por essa nova geração, que só pensa em dinheiro, carro e ostentação, e não prezando esses valores culturais que são nossos, fruto do nosso país, isso é para ser mostrado para aquelas pessoas que sempre dizem: “NOSSO PAÍS NÃO TEM NADA QUE PRESTA”, é só pegar e pesquisar que conhecerás várias bandas que tiveram uma imensa importância dentro da nossa história musical.

Fica aí minha dica, espero que gostem, ouçam, ouçam de novo e riam da comédia que é esse disco, que é para se ouvir do começo ao fim sem parar!

Esses são os discos que fazem parte do box que tenho, abaixo está estampada minha paixão pela banda Os Mutantes:

DADOS DO DISCO.

A divina Comédia ou Ando meio Desligado, é o terceiro disco da banda Os Mutantes, lançado em 1970.

Músicas:

  1. Ando Meio Desligado
  1. Quem Tem Medo de Brincar de Amor
  1. Ave, Lucífer
  1. Desculpe, babe
  1. Meu Refrigerador Não Funciona
  1. Hey Boy
  1. Preciso Urgentemente Encontrar Um Amigo
  1. Chão de Estrelas
  1. Jogo de Calçada
  1. Haleluia
  1. Oh! Mulher Infiel

Músicos:

Arnaldo Baptista- baixo teclados e vocais.

Rita Lee- vocal, percussões e efeitos

 

Sérgio Dias- guitarras, baixo e vocais.

Ouça o álbum A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado completo!

Eu sou Flávio Oliveira e este é o blog A História do Disco.