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John Lennon – Plastic Ono Band (1970)

John Lennon – Plastic Ono Band (1970)

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Eu sou o Flávio Oliveira e na matéria de hoje vou falar sobre um disco conceitual, com uma carga emocional imensa e que retrata o fim de uma era e o início de um ciclo. Hoje vou dissertar sobre um grande disco solo de meu beatle favorito, o senhor John Winston Lennon, mais conhecido como John Lennon, o famoso líder da banda The Beatles.

As razões pelas quais eu escolhi esse disco são várias, basta ouvi-lo e contemplá-lo faixa por faixa para perceber umbeatle revelando seus sentimentos mais reprimidos, como por exemplo, a perca da sua mãe – Julia Lennon – seu encontro com a religião, abordagens filosóficas sobre a vida, o amor e um novo momento com sua companheira Yoko Ono.

Explicação sobre o contexto do disco

Em 1969 tivemos o disco Abbey Road que marca o fim do Beatles e a imprensa em geral não esperava por essa triste notícia sobre o fim de um dos maiores grupos do século XX. Nesta época muitas pessoas questionavam o que seria de cada integrante da banda. Muitos não aceitaram o término da banda, como Paul McCartney que lutou até o último minuto para manter a banda junta, mas como se sabe de nada adiantou o esforço. O que podemos concluir brevemente sobre o término do Beatles é que cada um dos integrantes estava com foco em seus interesses: George Harrison estava se aprofundando na cultura indiana e se tornando um convicto religioso; tínhamos Ringo Starr que ficava a mercê das decisões da banda; Paul McCartney tentando tomar conta de tudo da banda e um Lennon já muito distante do grupo pois estava farto daquelas longas horas em estúdio no qual os quatro ficavam confinados. Sendo assim, fica claro que neste período os interesses dos quatro rapazes de Liverpool eram bem diferentes. Neste mesmo ano tivemos uma surpresa com o nascimento de uma nova banda, ou melhor, um supergrupo criado por John Lennon chamado Plastic Ono Band. Essa super banda era formada por amigos próximos de Lennon, como Eric Clapton, Klaus Voorman – este foi um dos amigos que o Beatles ganhou nos anos 60 em Hamburgo, o mesmo colaborou na criação da arte do disco Revolver de 1966 – , Ringo Starr e também George Harrison.

O projeto foi algo surpreendente e teve uma apresentação relâmpago em Toronto, o show foi registrado e no mesmo temos a banda tocando clássicos dos anos 50 como Blue Suede Shoes e também novas músicas de Lennon: Could Turkey, Give a Peace Chance e uma Jam ao vivo  – na qual eu acho fantástica. Pois bem, em dezembro de 1970 é lançado o primeiro disco de John Lennon com sua nova banda.

Comentários sobre o disco

Antes mesmo de entrarmos nos comentários do disco vale a pena ressaltar que no período de criação e produção deste álbum, Lennon passava por uma transformação em sua vida. É até bonito de se ver, uma atitude tão brusca de uma pessoa instável e cheia de problemas particulares como o nosso beatle. Os motivos para eu entrar nesse mérito estão relacionados aos momentos da vida de John que o marcaram para sempre. Um deles é a perca de sua mãe, Julia Lennon. É muito triste perder um ente querido, ainda mais a mãe e John tinha motivos de sobra para lamentar a perca de sua mãe. Com seus cinco anos, John era uma criança inocente, desprovida das “coisas da vida”e teve uma infância muito instável: seus pais se separaram, viveu em dois lares diferentes e teve que lidar com os problemas de seus pais. Mas por fim deu tudo certo, e quem acabou cuidando do pequeno John foi a tia Mimi. Mas você caro leitor deve estar se perguntando: o que isso tem haver com o disco? Tudo!

Antes da gravação deste disco John Lennon passou por diversas consultas com um psicólogo que ficou muito conhecido nos anos 60 por utilizar uma nova técnica. Esse médico chamava- se Dr. Arthur Janov e o mesmo criou uma nova forma de seus pacientes expelirem seus sentimentos mais reclusos através do grito, por isso essa terapia ficou conhecida como Grito Primal (The Primal Scream).

Em uma entrevista para um jornal brasileiro, o psicólogo disse que  viu tanta tristeza em uma pessoa’ se referindo a John Lennon – no final da resenha colocarei o link da matéria citada. Em suma, Lennon passou  por uma fase na qual teria que ‘pôr pra fora’ todos seus sentimentos reprimidos, como a perca da mãe, o fim dos Beatles e seu novo amor, Yoko Ono. Todo esse contexto foi muito interessante para o disco, pois em cada faixa percebemos o sentimento expresso por nosso querido John Lennon.

A primeira faixa do disco se chama Mother, uma música extremamente triste e que mostra nosso frontman totalmente diferente em relação as canções que o consagraram nos Beatles. No trecho “Mother, you had me, butI never had you/ I wanted you, but you didin’t want me” sentimos quanta tristeza a faixa carrega. John passou a acreditar logo cedo que todas as pessoas que ele amava, sempre fugiam dele, sua mãe é um grande exemplo. Vale ressaltar que é nessa faixa que percebemos um John Lennon triste colocando pra fora tudo que aprendei no The Primal Scream.

Bom, vamos para mais uma faixa desse disco, agora vou falar sobre a música ‘Working Class Hero’, a mesma parte para um tema com questões da política e também da sociedade. Um novo Lennon estava vindo com  ideias revolucionárias e naquele período o mundo estava passando por um processo de transformações na juventude. Para Paul McCartney, John nunca foi da ‘classe trabalhadora’ como ele sempre mencionou, mas sim um rapaz de classe média. Mas isso é o que menos importa, o que é válido é a aproximação que temos com as injustiças sociais, e Lennon fez parte de um processo histórico extremamente importante, no qual seu engajamento político ao lado de sua companheira foi fundamental para as mudanças no EUA.

E para encerrar a resenha de hoje comentarei sobre uma faixa que para mim é a melhor canção do disco. A música chamada ‘God’ é  um dos questionamentos mais filosóficos e mais interessantes que John Lennon levanta nesse disco. Como se sabe, os Beatles em um determinado momento na carreira passaram por uma mudança em seus comportamentos, no qual a religião passaria à influenciar todos na banda. A única pessoa que continuou seguindo o Hare Krishna e a cultura indiana foi George Harrison, o restante da banda não conseguiu dar continuidade no processo espiritual, e por isso Lennon faz um questionamento sobre o misticismo, a vida e a religião. Posso afirmar que essa é uma das músicas mais profundas que eu já ouvi, pois como na letra diz: ‘Deus é um conceito/Pelo qual medimos nossa dor’. Se realmente formos analisar, a religião ganha essa concepção na vida de cada um, ou seja, a fé está atrelada a alguma questão em cada e para Lennon todas as questões de religiosidade estão sendo expostas nesta canção. Como ele mesmo afirma na canção, ele não acredita em nada como as pessoas acreditam: Jesus, bíblia, Kennedy e outras formas de medir sua fé.

O que bem evidente é que ele não acredita em nada, apenas nele mesmo e que somos capazes de termos amo próprio! Quer algo mais profundo que isso? Nessa música também fica evidente o adeus aos Beatles, como ele afirma em um trecho: ‘I don’t believe in Beatles/ I just believe in me’. Eu acho isso um máximo e é uma letra  que mostra  como a juventude naquela época estava disposta a mudar o mundo!

Enfim, deixo aqui um disco delicioso de se ouvir, e afirmo: é muito raro encontrar algum artista que faça um disco de estreia tão bom quanto esse de Lennon. Abraço pessoal, e se deliciem com essa obra prima que é o Plastic Ono Band.

Faixas do Disco

1 – Mother

2 – Hold On

3 – I Found Out

4 – Working Class Hero
5 – Isolation

6 – Remember

7 – Love

8 – Well Well Well

9 – Look At Me

10 – God

11 – My Mummy’s Dead

12 –  Power To The People

13 – Do The Oz

Ouça o disco Ono Plastic Band completo.

Confira matéria sobre o psicólogo de John Lennon.