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Chico Buarque – Sinal Fechado (1974)

Chico Buarque – Sinal Fechado (1974)

Olá pessoal do blog, como vão vocês? Espero que estejam bem, pois, estamos iniciando um ano novo, vida nova e todos aqueles clichês cômicos que ouvimos todos os anos. Aproveitando a “deixa” desse momento de hibernação de todos e aqueles dias de folga para comentarmos sobre a obra do mestre Chico Buarque, cantor esse que teve as suas devidas importâncias na Música Popular Brasileira e que por sinal, existe certo preconceito contra o mesmo, mas é porque muitas pessoas julgam antes mesmo de conhecer, uma pena isso porque como estudante de história vejo suas letras como um prato cheio para analisarmos o contexto vivido na época e entendermos como era a vida no Brasil na década de 1970, anos esses que eram turbulentos e difíceis.

Decidi falar sobre esse disco porque aproveitando o gancho das últimas obras comentadas anteriormente, falamos de discos que foram importantes em meio a um tempo complexo, onde as pessoas não tinham a sua liberdade de expressão e nem sequer podia colocar na prática os seus pensamentos. Fato esse, que foi bastante polêmico em nosso país, pois vários artistas começaram a compor freneticamente, compondo discos maravilhosos (como este) e muitos dos compositores se embarcaram em alguma ideia para fugir daquela monotonia do autoritarismo militar. Esse é um assunto muito gostoso de discutir porque envolve vários aspectos da nossa cultura e propriamente da nossa história, pois, além de você ouvir um ótimo som com esse disco, você poderá entender quais eram os contextos vividos pelos artistas brasileiros, que sofriam censuras, muitos deles não podiam compor (fato que ocorreu com Chico Buarque) e ninguém podia falar sobre o que ocorria no Brasil.

Um breve ponto a ser comentado é esse preconceito que se acerca em torno de Chico Buarque, muitas pessoas têm certos preconceitos contra quem ouve o artista, pelo fato de que as pessoas que escutam Chico se acham intelectuais e se acham os “bacanas”, isso pode até ser uma verdade, mas temos que colocar em mente que não é só com Chico que isso acontece, isso acontece com outros artistas também. Existem várias pessoas que só porque escutam um som diferente de outras pessoas se sentem mais avançadas culturalmente do que quem não ouve, convenhamos, isso é uma tremenda banalidade, pois afinal, a nossa cultura tem que ser vista e revista, analisando os seus pontos de importância e deixando de lado esse preconceito ignorante, porque antes de termos uma crítica construtiva, devemos ter conhecimento acima de tudo para comentarmos. O que vejo sempre são pessoas que criticam mas nem sequer querem conhecer a obra, por isso resolvi fazer uma breve análise desse disco, e servindo como recomendação para todos ouvirem e quebrar esse estereótipo de que quem ouve Chico é intelectual.

Comentários sobre o disco Sinal Fechado (1974)

Francisco Buarque de Hollanda nascido em 19 de junho de 1944 é um dos artistas brasileiros mais renomados e bem respeitados dentro da MPB, isso vale muito porque Chico é um artista completo, além de ser compositor, ele é escritor contendo livros arrebatadores como: A gota d’água, Fazendo Modelo e o livro mais atual, O irmão Alemão. Chico também fez peças de teatros como Calabar, que conta uma breve passagem de um fato no Brasil:  um comerciante brasileiro que ajudou os holandeses durante a invasão no Brasil.

 Essa peça foi censurada e proibida de ser executada, pois essa peça soava como subversiva contra os dogmas militares da época, “uma ofensa ao Brasil”. Por isso Chico é um artista brasileiro que sempre teve um currículo abrangente e vasto, pois o mesmo é filho de um dos historiadores mais reconhecidos do Brasil, nada menos que Sérgio Buarque de Hollanda, historiador esse que gosto muito (e que recomendo que todos leiam sobre ele), por isso entendemos como Chico tem inspirações em suas músicas.

Chico foi um dos artistas mais atingido pela censura no Brasil, sendo atendido e taxado como militante de esquerda por muitos, rótulo esse que ele mesmo não aceitava pois em seus primeiros discos percebemos que essa desenvoltura nas composições eram diferentes, lembrando que esse primeiro disco dele, é um disco de samba bem suave e com letras apaixonantes, e por isso, Chico foi considerado um salvador por muitos estudantes da época, uma grande inspiração para todos que viviam aquele momento de ditadura.

A censura não poupou Chico que foi perseguido pois suas letras sempre foram compostas de criticas ao regime vivido, criticando o sistema e a sociedade brasileira, sempre com um toque sútil e com trocas de palavras para driblar a censura (driblar mesmo, no sentido literal da palavra), pois em um determinado momento de sua carreira várias de suas composições foram banidas pela censura, sendo consideradas canções que incitavam todos a cometerem atos subversivos e quebrarem as leis de segurança nacional, por conta da perseguição militar Chico teve que em vários momentos  escrever canções com outros nomes, nomes fictícios para não descobrirem quem era ele, caso do Julinho de Adelaide, esse que ele dizia que era um amigo dele, que morava nos morros do RJ e que era um compositor de samba, fato esse que ele conseguiu com sucesso enganar a todos, e por isso, resultou várias histórias curiosas sobre suas músicas, que é o caso da música “Jorge Maravilha” supostamente composta por “Julinho de Adelaide”, sendo que, existe um vídeo no you tube onde ele explica quem é o compositor da música, mas começaram a surgir várias histórias dessa canção dizendo que Chico Buarque poderia supostamente ter tido um caso com a filha do General Médici, a história é negada por ele até os dias de hoje, mas que a letra deixa a entender isso deixa.
Chico Buarque é um artista completo, em vários aspectos, não só pelo fato dele mostrar a nossa realidade, mas sim por ser um dos primeiros compositores brasileiros a abusar do lirismo poético e se passar por uma mulher (na música Olhos nos Olhos), retratando seus sentimentos, fato esse nunca demonstrado por nenhum cantor brasileiro e sobre seus comentários sobre as mulheres atenienses, na música ‘Mulheres de Atenas” canção essa que acho muito bonita e que serve como meio para entendermos a história.

Mas como disse anteriormente, Chico sofreu muito com a censura e foi obrigado a dar um tempo em suas composições, obrigando a criar um disco, para saudar outros compositores do Brasil, como Caymmi, Caetano Veloso, Noel Rosa e Paulino da Viola

O nome do disco, leva o nome uma canção de Chico, em um disco só, apenas contando com duas composições dele, o disco citado chama-se “Sinal Fechado” que pra mim é um disco muito forte, um dos seus melhores discos desse excelente integrante da MPB, onde ele contempla a obra da música brasileira e onde é um período onde ele dá uma pausa.

Sinal Fechado também é uma alusão à censura que corria na época, impedindo dele compor suas canções, eis aí um detalhe interessante, pois nesse disco ele consegue compor uma grande música interessante, que passou batido pela censura “Acorda Amor” música essa que está com o nome de Julinho de Adelaide, por isso podemos perceber que é um disco cheio de canções de nossa música popular brasileira e um disco muito bem recebido pela critica, tornando assim, um disco inesquecível e um disco obrigatório na coleção de todo fanático por música, por isso, fica aqui a minha dica.

                 

Faixas do Disco – Sinal Fechado (1974)

Lado A

1-    Festa Imodesta

2-    Copo Vazio

3-    Filosofia

4-    O Filho que Eu Quero Ter

5-    Cuidado com a Outra

6-  Lágrima

Lado B

1-    Acorda Amor

2-     Lígia

3-    Sem Compromisso

4-    Você não sabe Amar

5-    Me deixe Mudo

6-    Sinal Fechado

Uma boa viagem e até a próxima galera!

Ouça todas as faixas do disco Sinal Fechado!

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Jorge Ben – Tábua de Esmeralda (1974)

Jorge Ben – Tábua de Esmeralda (1974)

Olá pessoal do Blog, já faz um tempo que não posto algo, é porque esses dias a vida anda corrida, pois, temos fazeres da faculdade (tanto meu parceiro Bruno Machado, como eu também), final de semestre é sempre todo “tumultuado”, provas finais, trabalhos e seminários a serem apresentados, sem contar também na pressão que ficamos quando chega essa época do ano. Pois bem, tudo isso passou e agora me sobrou um tempo para escrever sobre esse disco de Jorge Ben, Tábua de Esmeralda, um clássico dos anos 70, que na humilde opinião do nosso Jorge é um disco “muito importante” em sua carreira.

O Disco Tábua de Esmeralda (1974)

Há 40 anos, Jorge Ben (sem o “Jor” ainda), fez esse aclamado disco, trazendo toda a sua versatilidade e seus conhecimentos aprendidos em um seminário onde ele passou por dois anos, tendo como fundamentos Teologia e Filosofia Medieval, tudo isso foi essencial para mudança na carreira de nosso Jorge.  Não podemos deixar passar que em 1974 nosso país vivia momentos duros, com repressão na sociedade, tanto no cenário musical, como no cenário político e os artistas com seu arbítrio ferido e censurado, começaram a produzir neste momento vários discos com um “conceito” ao fundo, a fim de semear paz e liberdade, exemplo disso temos esse belíssimo disco de Jorge, Raul Seixas com Sociedade Alternativa e posteriormente Tim Maia com os conhecimentos do “Universo em Desencanto”, tudo isso fez de trilha para reproduzir a liberdade e quebrar esse clima temeroso que rondava o nosso país.

Antes de adentrarmos comentando sobre o disco, devemos falar um pouco sobre a importância de Jorge Ben na Música Popular Brasileira. Vejo o descaso de algumas pessoas em relação ao Jorge, é difícil encontrar pessoas jovens, que curtam esse som, sem contar que o nosso saudoso Jorge foi um dos primeiros a misturar ritmos africanos em músicas brasileiras, e utilizar guitarras em samba, por isso temos ele como o preconizador do Samba Rock, sendo muito cogitado pelos gringos como uma referência em música e o nosso povo não reconhecendo a importância desse artista.

Eu, Flávio Oliveira, comecei a conhecer mais a obra de Jorge agora, nesse momento, depois de adquirir o Box dele, com os discos feitos pela gravadora Philips. Mas não perdendo o foco de nosso assunto, quero apenas explanar mais um comentário antes de entrar no disco, que é a questão da influência de Jorge para os Tropicalistas, pois, em um determinado momento de sua carreira, muitos pensaram que ele tinha fracassado, com todo o seu estilo Bossa Nova, mas o que acontecia era que, Jorge Ben, influenciava os tropicalistas, com todo seu estilo e gingado.

Quando falamos de Jorge Ben, sempre vem em nossa mente o samba e todo o seu jeito diferente de tocar violão, e é claro essa é uma marca registrada do nosso mestre, em seus primeiros discos a roupagem era bem assim mesmo, violão, voz, baixo e alguns instrumentos de percussão (que por sinal, foi uma parceria com o Trio Mocotó), mas com o passar do tempo, essa roupagem começa a ganhar mais forma de banda, e uma pegada genial de nosso mestre Jorge. Um exemplo disso é o disco Tábua de Esmeralda, um disco todo místico, onde ele mistura elementos de alquimistas, conceitos de Tomás de Aquino, onde ele reflete explicitamente, mostrando todos os seus conhecimentos adquiridos, e os ensinamentos aprendidos de Teologia.

A capa desse disco é uma figura de Nicolas Flamel, mostrando os ensinamentos de Alquimia e a primeira lei da tábua de Esmeralda, sendo que Jorge Ben foi um estudioso e tanto de Alquimia, mas nunca praticou, contudo, sempre foi um grande estudioso nesse assunto, e nesse disco temos a prova disso, desde a capa com a primeira Lei na Tábua de Esmeralda, até as letras desse disco, onde adentra em todo o contexto apresentado por ele.

O mais interessante desse disco é que, todas as músicas apresentadas nele, tem haver com os estudos feitos por Jorge Bem Jor, da primeira a última faixa, tornando-se um disco conceitual.

A primeira música, Os Alquimistas estão Chegando (Que tem todo aquele dialogo dele, onde ele fala “Tem que dançar, dançando”, que para mim é a melhor parte!) Jorge retrata toda personalidade de um alquimista, todo seu trabalho como é feito e entoando sempre sobre os alquimistas, seguindo nessa mesma pegada temos a música, Homem da Gravata Florida, que por sinal, foi uma pessoa importante no ramo da alquimia, muitos não sabem, mas esse homem é o teórico Parecelso, que foi um importante teórico sobre Alquimia da época e é conhecido como um dos grandes alquimistas. Reza a lenda que quando Paracelso ia atender os seus clientes ele sempre iria com um echarpe colorido e na mente de Jorge ele imaginou esse echarpe como uma gravata florida, onde em todo esse conceito lírico ele desenvolveu uma linha musical perfeita.

Esse disco é marcado por esse lado místico apresentado por Jorge, vale lembrar que, temos a música, Menina Mulher da Pele Preta que é uma música romântica, e perfeita aos embalos de Jorge Ben, onde ele mostra todo o seu desejo pela mulher brasileira, sempre seguindo essa cadência perfeita, ele reproduz uma obra prima, tendo várias canções contemplando a alquimia e claro não podemos esquecer que ele semeava paz e amor, o exemplo disso é a música, Brother, com o seu inglês “macarrônico”, para muitos essa é a música mais fraca do disco, mas, para mim o disco todo, conceitual é perfeito, dando “liga” uma música após a outra. Esse disco também foi muito bem recebido, sendo muito contemplado por seus fãs e admiradores.

40 anos depois muitos fãs queriam um show com todas as músicas desse disco tocadas ao vivo, fato esse que foi atendido por Jorge, e vale lembrar que esse disco para o Jorge Ben Jor é seu preferido, o mais importante de sua carreira. Na minha visão, sem sombra de dúvida, de todos os seus discos, o melhor é esse, que depois foi dada continuidade no disco, Solta o Pavão de 1975, que para muitos é o vol.2 do disco Tábua de Esmeralda. Por isso, fica aqui a minha dica, se você procura um disco nacional, conceitual com um tema de fundo, recomendo esse, Tábua de Esmeralda, como já diz Jorge “É verdade sem mentira, certo muito verdadeiro”.

Faixas do Disco

Lado 1

     1-  Os Alquimistas estão Chegando

     2 –   O Homem da Gravata Florida

    3-   Errare Humanum Est

    4 –  Menina Mulher da Pele Preta

   5 –   Eu vou Torcer

   6 –   Magnólia

Lado 2

    1-  Minha Teimosia, uma Arma para te Conquistar

    2  – Zumbi

    3 –  Brother

    4  –  O Namorado da Viúva

   5 –    Hermes Tresmegisto e a sua Celeste Tábua de Esmeralda

   6 –   Cinco minutos (5 minutos)

Confira uma Playlist com todas as faixas do álbum Tábua de Esmeralda do mestre Jorge Ben!